Anna Karenina

A vida sobre um palco. Assim é Anna Karenina (idem, 2012), que estreia nesta sexta-feira no país e é adaptado do livro homônimo do russo Liev Tolstói. E assim, também, o diretor Joe Wright constrói uma analogia à figura da aristocrata que mergulha num mar de sofrimento após ser tida como adúltera e, posteriormente, cair na loucura.

Julgada até o limite, Anna Karenina (interpretada aqui com uma verve costumeira por Keira Knightley) traiu o marido Karenin (Jude Law, ótimo), um homem quase santo, e decidiu que seria feliz somente se perdurasse ao lado do Conde Vronsky (Aaron Taylor-Johnson, de Kick-Ass). Sua intuição, porém, é sua própria traidora: Anna é separada do filho, olhada com nojo pela aristocracia e tratada com tamanha indiferença pelo tal amado – até que, como se espera, enlouquece de vez.

“As famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira”, diz Tolstói antes de começar a narrar a história penosa de sua personagem. Não só dela. O irmão de Anna, Stiva Oblonsky (no filme, Matthew Macfadyen, em vigorosa atuação), vive num casamento fracassado; e o herói romântico Levin (Domhnall Gleeson) é dolorosamente rejeitado pela jovem Kitty (Alicia Vikander).

Se o sofrimento em Anna Karenina é contínuo, a ideia de seu realizador é motivo de louvor. Para fugir do óbvio – e das limitações financeiras –, Wright decidiu situar o filme num teatro construído no Shepperton Studios. São diversos cenários que vão desde salões de baile, passam por cômodos de castelos e chegam até mesmo em estações de trem.

Anna sobe, literalmente, aos palcos para ser vaiada. Não há um olhar – à exceção de sua única amiga, a Princesa Myagkaya (Michelle Dockery, de Downton Abbey) – que não deposite censura sobre ela. Nem mesmo a irmã de Vronsky, a Princesa Betsy (papel da maravilhosa Ruth Wilson, da versão da BBC de Jane Eyre, uma estrela em ascensão), poupa comentários ácidos. E Anna, como boa atriz, resiste em cena até não poder mais.

Ao contrário dos longas anteriores do diretor – como Orgulho e Preconceito e Desejo e Reparação –, porém, Anna Karenina passou longe da aprovação unânime. As acusações foram leves, mas numerosas. Todas elas direcionadas à ornamentação visual da obra. “Extravagantemente encenado e fotografado, talvez até demais para seu próprio bem”, escreveu o crítico Roger Ebert num tom de desagrado. Seria mesmo. Não fosse, antes disso e principalmente, um filme perfeito.

Angelo Capontes Jr.