A Dama de Ferro

Meryl na pele de Thatcher: atuação majestosa

A Dama de Ferro deveria ser uma biografia definitiva, mas termina mais como uma prova do talento de Meryl Streep

A segurança inabalável, a defesa pela posição da mulher na política e um jeito truculento de ser são alguns dos motivos que conferiram ao nome Margaret Thatcher certo respeito. Sem contar, é claro, com diversas decisões arriscadas tomadas pela ex-primeira-ministra ao longo dos 11 anos no cargo, no qual não media esforços para reverter o período de queda pelo qual a Inglaterra passava.

A considerar pelos traços marcantes, além de inúmeros feitos consideráveis, é surpresa – não muito agradável, por sinal – que A Dama de Ferro (The Iron Lady, 2011), que estreia nesta sexta-feira no país, seja pouco mais que uma biografia que pincele ocasiões políticas e prefira contar a história de uma Margaret Thatcher no fim da vida, já sofrendo pelo mal de Alzheimer, e que se distancia da mulher de temperamento intenso dos anos 80.

Logo de início, Thatcher se prepara para mais um dia: vai ao mercado comprar leite e volta para casa, onde toma café ao lado do marido. Mas logo se descobre que o sr. Denis Thatcher já não está mais vivo e aquela não passa de uma das frequentes alucinações vividas por ela.

Para compor o lado histórico, o filme aposta num vai-e-vem – até certo ponto interessante, mas que depois fica exaustivo – e revela passagens da personagem desde o início da profissão até a década em que se estabeleceu no poder pelo mandato. A roteirista Abi Morgan (vinda, sobretudo, de longas para a TV) resgata pontos nobres da carreira da Dama de Ferro, como a reversão do declínio social do país ou a tentativa de assassinato que sofreu em 84.

Esses são os poucos momentos que o filme consegue mostrar a que veio e elucida toda a bravura de sua protagonista. Já no restante do tempo, em que a obra mostra a degeneração causada pela doença, o resultado é similar e poderia muito bem fazer parte de qualquer outro drama sobre qualquer outra figura menos célebre que esta.

Essa decisão duvidosa está diretamente ligada ao trabalho da inglesa Phyllida Lloyd (de Mamma Mia! e de óperas e musicais do teatro), uma diretora de mão levíssima – quase nula. Seu trabalho aqui consiste em usar o mínimo de recursos possíveis para que o grande espetáculo seja a majestosa interpretação de Meryl Streep, ajudada por um incrível trabalho de maquiagem.

Por conta disso, A Dama de Ferro acaba sendo muito mais uma prova do talento exorbitante de Meryl que uma biografia definitiva de uma figura tão singular quanto Margaret Thatcher – que, sem sombra de dúvidas, merecia não só uma interpretação mas também um filme que fizesse jus a tanta coragem e determinação.

Angelo Capontes Jr.