Minha Vida Dava um Filme

Logo no início de Minha Vida Dava um Filme (Girl Most Likely, 2012), Imogene (Kristen Wiig) perde dois ingredientes da sua receita para o sucesso

: o namorado, por quem ela morre de amores, e o emprego, que, embora não fosse o dos sonhos, era o único que tinha.

Para tornar o pesadelo mais assombroso, Imogene – por circunstâncias antológicas – ainda será obrigada a passar uns dias com a mãe (Annette Bening), com quem divide uma relação não muito aprazível.

De tão frustrante, a história da protagonista poderia render, como o título nacional anuncia com surpreendente esperteza, um drama cinematográfico. Um drama bastante crível, aliás.

Imogene é uma daquelas promessas não concretizadas: depois de ganhar um importante prêmio por escrever uma peça de teatro no início da carreira, jamais conseguiu repetir o feito. Seu maior temor, porém, não é continuar anônima em Nova York, mas voltar à vida provinciana. Seria como reconhecer o quão normal ela mesma é.

O principal acerto de Minha Vida Dava um Filme, dos diretores de Anti-Herói Americano, é retratar o grande medo contemporâneo: o de cair na normalidade. Interpretada com zelo pela excelente Kristen Wiig, Imogene sonhou tanto que, antes até de sofrer um revés, já havia se perdido nos próprios sonhos. Recomeçar, atesta o filme, é tarefa exaustiva – mas também uma rara oportunidade de aprender a alimentar menos expectativas e viver com mais disposição.

Angelo Capontes Jr.